segunda-feira, 25 de março de 2019

A cevada e o centeio: grãos diferentes, benefícios semelhantes

a cevada e o centeio,

Quando dentro do mesmo grupo alimentar utilizamos alimentos que se distinguem pela textura, sabor e cor diferentes, mas com características nutricionais semelhantes, estamos a introduzir variedade à alimentação. É um dos princípios básicos da alimentação saudável. Um bom exemplo é usar mais a cevada e o centeio para preparar refeições completas.

A cevada é um cereal bastante utilizado. É ingrediente de bebidas solúveis de cereais, de bebidas alcoólicas, na farinha para pão, em flocos e em grão. A cevada perolada é o grão de cevada descascado. Pode ser cozinhada como o arroz e pode ser encontrada no supermercado, na zona da alimentação saudável ou em mercearias tradicionais. Já experimentou a cevada como fonte de energia numa refeição principal?

Quando incluímos os grãos de cevada na alimentação, eles podem ajudar a controlar os níveis de glicose no sangue e promovem saciedade, atributo importante no que respeita à manutenção de um peso corporal saudável. Estes benefícios ocorrem pelo seu teor significativo em fibras solúveis, representadas pelos β-glucanos, com cerca de 17,3 g /100 g de grão. O seu principal macronutriente é o amido (73,5 gramas/100 gramas). O potássio é o micronutriente mais abundante (452 mg / 100 g), seguindo-se o fósforo (264 mg /100 g), o magnésio (133 mg/ 100 g) e o ferro (3,6 mg / 100 g). No seu conteúdo em vitaminas, as destacáveis são a vitamina B3 (niacina) com um valor de 4,6 mg /100 g e a vitamina E com 0,6 mg / 100 g na forma dos compostos tocoferóis e tocotrienóis que conferem uma ação antioxidante a este cereal.

A cevada e o centeio: fibras solúveis, vitamina B3 e E

O centeio é mais escuro e tem um sabor mais intenso que a cevada. É dos cereais mais utilizado na confeção de pão, depois do trigo. Nutricionalmente tem características muito semelhantes à cevada: o amido predomina (75,9 g / 100 g de grão de centeio) também com uma apreciável quantidade de fibras solúveis (15,1 g / 100 g). O seu teor mineral por 100 gramas é de 510 mg de potássio, 332 mg de fósforo, 110 mg de magnésio e 2,63 mg de ferro. Também as vitaminas presentes em maior quantidade são a vitamina B3 (4,3 mg/100 g) e a vitamina E (0,9 mg/100 g).

Como anteriormente exposto, a cevada e o centeio são grãos diferentes na sua textura, sabor e cor, contudo se intervalar os grãos de uma com os grãos do outro, obtém benefícios nutricionais semelhantes. Estes dois cereais são muito ricos nutricionalmente para incluir na sua alimentação diária: em flocos de cereais ao pequeno-almoço, em farinha para confecionar pão (sugiro que misture na receita uma percentagem de farinha de trigo) ou mesmo em panquecas. Quando quiser inovar e incutir variedade na alimentação, pense em preparar uma refeição em que normalmente escolhe o arroz e substitua por cevada perolada. Desperte para novos sabores e experimente alimentar a vida com outras cores mas com benefícios nutricionais semelhantes.

Referências: Bondia-Pons, I. et al. (2009).Rye phenolics in nutrition and health . Journal of Cereal Science 49 (2009) 323 –336; Baik,, B., Ullrich, S. (2008). Barley for food: Characteristics, improvement, and renewed interest. Journal of Cereal Science 48 (2008) 233–242;United States Department of Agriculture , Agricultural Research Service. (2018).  National Nutrient Database for Standard Reference. Acedido em 22 de março de 2019 no website do United States Department of Agriculture , Agricultural Research Service : https://ift.tt/2uru9xO; https://ndb.nal.usda.gov/ndb/foods/show/20062?fgcd=&manu=&format=&count=&max=25&offset=&sort=default&order=asc&qlookup=RYE%2C+UPC%3A+701990000130&ds=&qt=&qp=&qa=&qn=&q=&ing=; Imagem de <a href=”https://ift.tt/2HQC1Ru. Leone</a> por <a href=”https://ift.tt/2urua4Q>

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quarta-feira, 20 de março de 2019

Dietas vegetarianas e prevenção do cancro

dietas vegetarianas,

Poderão as dietas vegetarianas prevenir o surgimento de cancro?

Uma revisão sistemática publicada em 2017 propôs-se a clarificar a associação entre as dietas vegetarianas e veganas e os fatores de risco para doenças crónicas, risco de mortalidade e incidência destas doenças. Os autores concluíram que poderá haver um menor risco para o surgimento de cancro nos grupos de indivíduos com um padrão alimentar vegano. No entanto, os resultados deverão ser interpretados com cautela. Todos os estudos incluídos são bastante heterogéneos e com uma população pequena, o que dificulta o processo de análise e as conclusões.

Um outro estudo publicado em 2016, não se encontraram benefícios significativos com a exclusão de proteína de origem animal, quando comparadas dietas que incluíam peixe com dietas vegetarianas. Os autores referem que o benefício para a prevenção do cancro parece estar no elevado consumo de alimentos de origem vegetal e não na exclusão total de alimentos de origem animal.

Após o surgimento da doença, mais que a dieta, parecem ser os tratamentos o fator com maior impacto na mortalidade por cancro.

Dietas vegetarianas: fatores confundidores

Chegar a conclusões relativamente aos benefícios de um determinado padrão alimentar é um processo complexo, já que raramente é possível isolar a dieta dos restantes estilos de vida dos indivíduos estudados. Os indivíduos que adotaram dietas vegetarianas também apresentavam, por exemplo, menor índice de massa corporal. A obesidade é um fator de risco conhecido para o surgimento de cancro, será assim difícil avaliar qual a extensão do impacto da ausência de obesidade e o da dieta de modo isolado.

dietas vegetarianas,

Por outro lado, de uma forma geral, assume-se que tipicamente indivíduos que seguem dietas vegetarianas adotam estilos de vida mais saudáveis em comparação com indivíduos que ingerem elevadas quantidades de carne, dificultando a dissociação do beneficio do padrão alimentar do benefício do estilo de vida como um todo.

Mais do que um fator isolado, será o estilo de vida o fator com maior impacto na redução ou aumento de risco do surgimento de qualquer doença. Por isso, a mensagem é pouco glamorosa mas importante: os benefícios encontram-se na adoção de estilos de vida saudáveis mantidos de forma consistente.

Seguir as recomendações do World Cancer Research Fund é atualmente um bom começo para a prevenção:

  – Reduza a ingestão de carne vermelha para 350 – 500g por semana (peso após confeção) e apenas ingira carnes processadas esporadicamente.
  – Mantenha um peso adequado para a sua idade e estatura, limitando a ingestão de bebidas açucaradas e de alimentos ricos em açúcares de absorção rápida.
  – Limite a ingestão de bebidas alcoólicas.
– Pratique um mínimo de 75 minutos de atividade física intensa ou 150 minutos de atividade física moderada por semana.
  – Aumente a ingestão de alimentos ricos em fibras como cereais integrais, oleaginosas, leguminosas e ingira um mínimo diário de 5 porções de vegetais e fruta, equivalentes a 400g.

Já escrevemos outros artigos sobre dietas vegetarianas. Pode consultá-los aqui e aqui.

Referências:Godos J, et al. Vegetarianism and breast, colorectal and prostate cancer risk: an overview and meta-analysis of cohort studies. J Hum Nutr Diet. 2017 Jun;30(3):349-359; Dinu M, et al. Vegetarian, vegan diets and multiple health outcomes: A systematic review with meta-analysis of observational studies. Crit Rev Food Sci Nutr. 2017 Nov 22;57(17):3640-364; wcrf.org 

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sexta-feira, 15 de março de 2019

A prática do yoga em doentes com cancro da próstata

yoga e cancro da próstata,

O cancro da próstata é o cancro masculino de maior incidência. Atualmente, existem alguns estudos sobre os benefícios da prática do yoga em doentes com cancro de próstata.

Os benefícios do yoga são bem conhecidos ao nível físico, mental e psicológico. Um dos efeitos de praticar yoga é o desenvolvimento da capacidade de aceitação. Aceitar o que se é, aceitar o que surge na vida. Quando se encara os desafios da vida com resiliência, percebe-se que há uma pré-disposição para encarar as adversidades como mais um passo que tem de ser dado, de forma firme e confiante. Portanto, o yoga permite o encontro com aquilo que somos, a aceitação daquilo que surge.

A prática de asanas, as posturas do yoga, concede-nos maior consciencialização do corpo, mas sobretudo facilita uma aprendizagem de como se pode ultrapassar as limitações físicas, contribuindo para a autoestima e a autoaceitação. A prática de pranayama (técnicas de respiração) para além de incrementar a capacidade respiratória, transmite calma, bem-estar e uma atitude mais tranquila da mente. O relaxamento possibilita relaxar corpo e mente, trazendo benefícios na gestão da dor física e emocional. Por último a meditação, permite não só incrementar a capacidade de aceitação, mas também saber controlar sentimentos de angústia, negação, medo, entre outros, contribuindo para encarar o momento com maior assertividade.

Dos estudos existentes sobre a prática do yoga em doentes com cancro de próstata, os resultados mostram uma significativa redução da fadiga emocional e física, menos efeitos colaterais ao nível sexual e melhor funcionamento urinário, comparativamente com homens com o mesmo processo de evolução da doença, mas sem praticar yoga.

Neha Vapiwala, professora associada de radiologia oncológica na Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia, juntamente com os seus colegas, realizaram um estudo com as seguintes características:

Recrutaram 50 homens com cancro de próstata não metastizado precoce ou avançado, com idades entre 53 e 85 anos. Desse grupo de pessoas, 22 foram selecionados para o grupo de yoga e os restantes não. Durante o estudo, todos os homens receberam tratamentos de radioterapia, 29 receberam terapia hormonal e 19 foram intervencionados cirurgicamente.

As sessões de yoga duraram 75 minutos e incluíam posições sentadas, de pé e de flexão anterior e posterior, de acordo com a capacidade e habilidade de cada praticante. Antes, durante e após o estudo, ao longo de nove semanas, os dois grupos responderam a avaliações sobre fadiga, saúde sexual (incluindo, mas não se limitando ao funcionamento erétil) e sintomas urinários.

No seu estudo, a Drª. Vapiwala sugere que o yoga melhora a função erétil e urinária, fortalecendo os músculos centrais e melhorando o fluxo sanguíneo. E salienta que independentemente da forma física é importante manter uma mente aberta.

Para uma prática com benefícios no cancro da próstata, a minha recomendação é que procure um professor devidamente certificado em yoga e cancro. Uma vez que não se trata apenas de praticar posturas de yoga, é necessário saber quais as posturas benéficas e a sequência exata para que o doente possa obter os melhores resultados.

Referências:Ben-Josef, A. M., Chen, J., Wileyto, P., Doucette, A., Bekelman, J., Christodouleas, J., … & Vapiwala, N. (2017). Effect of eischens yoga during radiation therapy on prostate cancer patient symptoms and quality of life: A randomized phase II trial. International Journal of Radiation Oncology* Biology* Physics98(5), 1036-1044.; https://ift.tt/2vioNX1; Créditos da imagem: https://ift.tt/2P1qnrR

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segunda-feira, 11 de março de 2019

A aveia e a espelta: úteis desde o pequeno almoço até à ceia

aveia e esperta,

A Roda dos Alimentos ajuda-nos a compreender algumas orientações práticas para alcançarmos uma alimentação saudável. No grupo alimentar “cereais, derivados e tubérculos” encontramos uma grande variedade de alimentos que podemos utilizar desde o pequeno-almoço até à ceia. A aveia e a espelta pertencem a este grupo.

A aveia é atualmente um cereal bastante popular, mais pessoas procuram consumi-la ao pequeno-almoço confeccionando papas de aveia. Já a espelta pode ainda não ser completamente reconhecida como uma alternativa saudável, no grupo dos cereais.

A espelta é uma subespécie do trigo comum e tem características nutricionais semelhantes a este. Por isso, por conter glúten, não pode ser utilizada na alimentação de um doente celíaco.

Com um teor proteico de 14,5 g por 100 gramas, a espelta crua, apresenta um valor superior em relação ao trigo comum, e conta com a especial presença dos aminoácidos essenciais lisina e cisteína. O conteúdo em hidratos de carbono é 70,2 g por 100 gramas e o amido é o principal constituinte. As vitaminas mais valorizadas são a vitamina B3 (ou niacina com 6.8 mg/100 g), a vitamina B2 (ou riboflavina com 113 mg/100 g) e a vitamina B1 (ou tiamina com 0.36 mg/100 g). Na sua composição mineral surge o fósforo em primeiro lugar (401 mg/100 g), seguido do potássio (388 mg/ 100 g), do magnésio (136mg/100 g) e do ferro (4,4 mg / 100 g).

Uma das vantagens da espelta é o seu baixo valor em ácido fítico, aumentando assim a sua digestibilidade, uma caraterística importante na alimentação das crianças. Pode ser utilizada na confeção de papas caseiras, não tendo adição de açúcares e conservantes.

O consumo mundial de aveia é elevado. Na forma pura, a aveia tem uma casca rija que a protege do ambiente externo. Contudo não a consumirmos nesta forma, não é digerida pelo organismo. Assim deve-se descascar a aveia, aproveitando as suas três frações: o farelo ou farinha grossa, o endosperma e o germe. Não se preocupe, quando consumirmos a aveia vamos obter todos os benefícios destas três frações visto que elas não se separam.

Com o farelo ou farinha grossa usufruímos de uma grande quantidade de fibras alimentares solúveis (16,7g/100 g), sobretudo de β-glucanos. A Food and Drug Administration (FDA) refere que existe uma correlação positiva entre o consumo de farelo de aveia e um menor risco de doenças coronárias. Alguns estudos indicam que o consumo de alimentos ricos em β-glucanos ajudam a reduzir os níveis de glicemia no sangue e concedem maior saciedade, um requisito favorável para fazer refeições equilibradas e um aspeto fundamental para controlar o peso.

Atualmente, uma farinha ter ou não ter glúten na sua constituição pode levantar muitas dúvidas, sobretudo para quem sofre de doença celíaca. Alguns estudos dizem que a proteína principal da aveia é a avenalina e não o glúten. Mas o que pode acontecer é haver contaminação cruzada, isto é, a aveia no seu processo de transformação ou armazenamento pode partilhar o mesmo local de outros cereais ricos em glúten, como é o caso do trigo e ser contaminada. A aveia só deve ser aconselhada a doentes celíacos quando existe certeza absoluta que é pura ou quando apresenta uma certificação expressa de “aveia sem glúten”. É na fração do germe que encontramos 13,5 g de proteínas por 100 gramas de aveia. O endosperma é constituído por hidratos de carbono, maioritariamente amido (58,7g/100 g).

Experimente introduzir a aveia e a espelta numa refeição ligeira. Pode encontrá-las em diversas formas. No pequeno-almoço, lanche ou ceia, a sugestão pode ser: pão feito de aveia e espelta, os flocos de aveia ou de espelta nos cereais de pequeno-almoço ou a farinha de aveia para papas. E se lhe apetecer uma massa ao almoço ou ao jantar, já existe a opção de massa de espelta. Bom proveito!

Referências: Kohajdová, Z., Karovičová, J. (2008). Nutritional value and baking applications of spelt wheat. Acta Sci. Pol., Technol. Aliment. 7(3) 2008, 5-14; Decker, E. et al. (2014). Processing of oats and the impact of processing operations on nutrition and health benefits. British Journal of Nutrition (2014), 112, S58–S64. Klensporf,D. , Jelen, H.( 2008). Effect of heat treatment on the flavor of oat flakes. Journal of Cereal Science 48 (2008) 656–661.; Ranhotra, G. et al. (1995). Nutrient Composition of Spelt Wheat. Journal of food composition and analysis 9, 81-84.; Rebello, C. et al. (2016). Dietary fiber and satiety: the effects of oats on satiety. Nutrition ReviewsVR Vol. 74(2):131–147. United States Department of Agriculture , Agricultural Research Service. (2018).  National Nutrient Database for Standard Reference. Acedido em 9 de março de 2019 no website do United States Department of Agriculture , Agricultural Research Service : https://ndb.nal.usda.gov/ndb/foods/show/45029771fgcd=&manu=&format=&count=&max=25&offset=&sort=default&order=asc&qlookup=MULTIGRAIN+OATBRAN+CEREAL%2C+UPC%3A+058449602316&ds=&qt=&qp=&qa=&qn=&q=&ing=;https://ndb.nal.usda.gov/ndb/foods/show/20140fgcd=&manu=&format=&count=&max=25&offset=&sort=default&order=asc&qlookup=SPELT%2C+UPC%3A+664541000099&ds=&qt=&qp=&qa=&qn=&q=&ing=; Créditos da imagem:https://ift.tt/2VRJZxy

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sexta-feira, 8 de março de 2019

Reduzir o uso de estatinas: a missão de uma cardiologista americana

Elizabeth Klodas é uma cardiologista americana, autora do blog Step One Foods e publicou recentemente um artigo na CNN sobre a necessidade de se reduzir o uso de estatinas no controlo do colesterol. Partilhamos o seu ponto de vista.   

Colesterol alto? Aqui está um comprimido. Pressão alta? Aqui estão dois comprimidos. Açúcar alto no sangue? Aqui estão dois comprimidos e uma injeção.

É isto que muitos médicos por rotina fazem, sem nunca abordar com o doente as razões de apresentarem valores acima dos considerados normais do colesterol, da pressão arterial ou do açúcar no sangue.

Esta também era a minha prática, até que percebi que, tudo o que fazia era esconder os efeitos negativos de uma alimentação pobre com uma batelada de medicamentos, em vez de modificar os hábitos alimentares.

Sou cardiologista e formei-me nas melhores instituições médicas do mundo, incluindo a Clínica Mayo e o Hospital Universitário Johns Hopkins, além de ser reconhecida pelos cuidados que presto aos meus doentes. Mas o que eu realmente gostaria de alcançar profissionalmente era não ter tanto trabalho.

Infelizmente, os cardiologistas têm muito trabalho, sem fim à vista. Isto acontece porque estamos a tratar estes doentes de modo errado. Habitualmente, a minha sala de espera estava cheia de pacientes, que tratava na perfeição, mas que continuavam doentes, sentindo-se pessimamente. Alguns até se chegaram a sentir pior com toda a medicação que eu lhes prescrevia. Sem cura à vista, tinham, no seu horizonte, apenas as intermináveis consultas de acompanhamento. Não foi para isto que tirei medicina.

Contudo, ninguém parecia estar a fazer alguma coisa para resolver este problema, ignoravam-no. Então, decidi encontrar uma solução e fundei uma empresa que desenvolve produtos alimentares para ajudar a reduzir o colesterol, com o apoio das ciências farmacêuticas.

Pode haver 30.000 produtos alimentares nos supermercados, mas nenhum deles foi efetivamente submetido a qualquer escrutínio científico.  Esses produtos ostentam diferentes tipos de marcas de certificação e símbolos com o coração, mas isso é apenas uma parte de todo o processo. Por exemplo, os cereais podem conter fibras alimentares, divulgando ousadamente nas embalagens, a capacidade dessas fibras reduzirem o colesterol, mas as letras pequeninas revelam que uma porção desses cereais também fornece açúcares adicionados, equivalentes a três bolachas. Qualquer efeito positivo para a saúde dessas fibras é completamente anulado. É suposto o consumidor comum saber disto? Não, a maior parte dos consumidores não sabe. Os consumidores conseguem avaliar o sabor desses cereais e sentem-se bem ao comprá-los. Os meus doentes faziam esforços para “comer melhor”, mas estavam sendo enganados.

Há duas décadas atrás, as recomendações para o tratamento do colesterol do Instituto Nacional de Saúde determinava que as alterações nos hábitos alimentares deveriam ser implementadas durante três meses, como a primeira abordagem para tratar os doentes com níveis de colesterol elevado, antes de serem submetidos a qualquer prescrição médica para o efeito. Porém, muitos de meus colegas manifestam ceticismo de que uma solução baseada num regime alimentar possa funcionar.

Foram necessárias mais de 80.000 horas de formação para me tornar cardiologista. Deste tempo, quantas horas foram investidas em nutrição? Zero.

As orientações de tratamento, que representam os cuidados padrão apropriados, são apenas declarações simbólicas sobre nutrição. Por exemplo, a mais recente orientação para o controlo do colesterol da Associação Americana de Cardiologia tem 120 páginas. Quantas páginas são dedicadas aos hábitos alimentares? Um parágrafo. São, principalmente, orientações acerca da prescrição de medicamentos e suas doses. As crianças com apenas 10 anos, de acordo com estas orientações, podem começar a tomar estatinas como Lipitor e Crestor.

Além do mais, os médicos apenas conhecem o modelo de prescrição. O que lhes é ensinado é que a única prova eficaz e verdadeiramente válida é um ensaio clínico, tudo o resto é uma suposição. É por isso que a indústria farmacêutica governa, embora a literatura científica esteja repleta de dados sobre os benefícios para a saúde de vários alimentos. Os alimentos não têm “posologia”.

Sabia que os médicos são controlados de acordo com a prescrição de medicamentos? Se eu não seguir as diretrizes para o colesterol prescrevendo estatinas, as seguradoras irão enviar cartas de repreensão. Se eu não falar com o doente sobre os efeitos das nozes e do farelo de aveia na redução do colesterol, ninguém se importa. Os médicos até recebem mais dinheiro quando um medicamento é prescrito. Uma consulta médica que gere uma prescrição é considerada mais complexa, com maior reembolso. Em contrapartida, se um médico usar um pouco do seu tempo para falar sobre antioxidantes e ácidos gordos ómega-3 ao doente, não obtém nada mais.

A minha ideia é disponibilizar aos médicos, às seguradoras e especialmente aos doentes, uma alternativa alimentar para reduzir o colesterol, que possa competir ao mesmo nível dos medicamentos. Esses alimentos devem ter um sabor excelente, utilizando apenas ingredientes promotores da saúde. Eles devem estar doseados, fáceis de prescrever e usar, tal como os medicamentos. Mais importante, eles têm a capacidade de produzir reduções no colesterol clinicamente significativas, confirmadas por ensaio clínico.

Uma vez que 70 milhões de americanos têm colesterol elevado, decidi aproximar-me das grandes empresas de alimentos e de investidores, pensando ingenuamente que eles iriam adorar a minha ideia e querer ajudar. Não, nada disso. Os produtores alimentares consideraram os ingredientes saudáveis (como amêndoas, nozes, nozes e mirtilos integrais) muito caros. Eles queriam substituí-los por aromatizantes, adoçantes artificiais e “pedacinhos de frutas”. Os investidores entenderam que o ensaio clínico que propusemos para confirmar a eficácia era demasiado incerto. E disseram-nos que precisávamos de ter patentes para que pudéssemos cobrar preços como fazem as empresas farmacêuticas. Não admira que isso nunca tivesse sido feito antes. Simplesmente não dava bastante lucro. A saúde do doente, pelo que parece, não é muito valiosa.

Decidida, eu e os meus apoiantes avançamos, financiados através de doações, e conduzimos um ensaio em dois países para testar alimentos na redução do colesterol em indivíduos com intolerância às estatinas, isto é indivíduos candidatos a tomar estatinas, mas que não podem tomar estes medicamentos por reações adversas, como dores musculares. Os participantes do estudo receberam uma única instrução:”Coma estes alimentos duas vezes por dia, para substituir outros produtos alimentares que habitualmente come”, sem fazer mais nenhuma alteração ao estilo de vida. Tão e simples e literal como “tome esse comprimido duas vezes por dia”.

Foram encontrados resultados que atingiram 20%, 30%, quase perto dos 40% em reduções de colesterol em muitos dos participantes, em apenas 30 dias. Estes dados foram submetidos num encontro da Associação Americana de Cardiologia e serão alvo de publicação. Essas respostas aos níveis de colesterol com alimentos estão ao nível das respostas obtidas medicação, sem a necessidade de outras revisões dietéticas ou de rotinas de exercício físico. Estes alimentos não representam só uma opção para os 20 milhões de americanos  estimados que são intolerantes às estatinas e não têm outras soluções, mas também para milhões de pessoas que precisam de baixar o colesterol.

Tal como acontece com os medicamentos, nem todo o colesterol responderá igualmente a uma intervenção alimentar. Algumas pessoas devem tomar estatinas mesmo que o colesterol esteja com valores normais. Mas, considerando que um mês de hábitos alimentares saudáveis é suficiente para determinar se o indivíduo responde positivamente às alterações alimentares, não fará sentido dar às pessoas a oportunidade de tentarem uma intervenção alimentar validada antes de lhes prescrever medicação para uma vida inteira? Tanto mais que os alimentos não têm efeitos colaterais, apenas benefícios como baixar a pressão arterial, melhorar os níveis de açúcar no sangue, perda de peso e bem estar físico.

A alimentação saudável é a solução global para um problema complexo. E isso pode colocar-me a mim… e as empresas farmacêuticas – fora do negócio.

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segunda-feira, 4 de março de 2019

9 anos de publicações: resiliência na prevenção

9 anos de publicações,

Hoje celebramos 9 anos de publicações, para todos aqueles que pretendam adotar um estilo de vida saudável.

Todos os dias desde que o Stop Cancer Portugal foi criado em 2010, eu e outros colaboradores trabalhamos para garantir que os portugueses acedam a conteúdos educativos e informativos, através das plataformas digitais, e possam escolher o caminho da saúde através da prevenção.

Esforçamo-nos para dar as melhores recomendações na prevenção das principais doenças deste século: as doenças oncológicas.

Adotar um estilo de vida saudável é um dos fatores mais importantes na prevenção do cancro. Mas também tem um contributo significativo depois de um diagnóstico e durante a sobrevivência.

Atualmente, na prevenção do cancro, a alimentação, a atividade física e o controlo de um peso saudável são alvo constante de pesquisas e atualizações frequentes, o que permite criar evidência científica robusta de modo a tomar as melhores decisões e as devidas precauções.

Planear uma vida saudável e de bem-estar começa com mudanças simples no estilo de vida que se tornam hábitos saudáveis.

Temos sido tão resilientes que sem qualquer fundo, apoio financeiro ou reconhecimento do nosso trabalho (com excepção dos gostos, comentários e emails de apoio que recebemos) continuamos aqui a desenvolver diariamente a nossa missão – alertar as pessoas para o cancro, o que contribui para a redução do aparecimento de novos casos e a melhorar a qualidade de vida dos que são afectados por esta doença.

Em 9 anos publicamos mais de 900 artigos, reunindo informação dedicada à promoção da saúde, tratando sempre essa informação com pesquisa e rigor científico.

Para nos apoiar, recomende a nossa página a alguém que possa beneficiar das leituras no Stop Cancer Portugal. Partilhe este link com eles. Continue a visitar, a participar!

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sexta-feira, 1 de março de 2019

Dieta cetogénica e cancro: o que diz a ciência?

dieta cetogénica,

Nos últimos anos, têm surgido vários estudos que sugerem que a dieta cetógenica pode trazer potenciais benefícios no cancro. A dieta cetogénica é caracterizada pela ingestão de uma elevada quantidade de gorduras, uma quantidade baixa ou moderada de proteínas e muito baixa quantidade de hidratos de carbono.

A resposta fisiológica dada pelo aumento do metabolismo das gorduras e o metabolismo limitado dos hidratos de carbono associado a este tipo de alimentação induz um estado de cetose, com aumento da produção de corpos cetónicos, diminuição dos níveis de glicose e de insulina no sangue e manutenção do pH sanguíneo.

dieta cetogenicaDieta cetogénica: porquê o interesse em oncologia?

Na base da hipótese de prescrição da dieta cetogénica em doentes oncológicos está o facto de, independentemente da disponibilidade de oxigénio e da capacidade de o processarem, a maioria das células cancerígenas captar e converter a glicose em lactato, em vez de originar dióxido de carbono. Dado ser uma forma ineficiente para obter energia, as células usam uma estratégia compensatória, aumentando a quantidade de glicose captada que lhes permita obter mais energia e, desta forma, propagarem. Em teoria e considerando a dependência deste hidrato de carbono por parte das células cancerígenas, se se reduzir a disponibilidade do mesmo, evitar-se-á o desenvolvimento da doença. Assim e dado que a dieta cetogénica força o organismo a usar a gordura e não a glicose para obter energia, existe interesse em investigar a influência deste tipo de alimentação em oncologia.

Dieta cetogénica e cancro: o que diz a ciência?

A maioria dos trabalhos realizados foi desenvolvida com células e com animais. Todavia, um trabalho de revisão recente analisou os resultados de estudos em humanos (14), de modo a avaliar os efeitos da dieta cetogénica em doentes oncológicos.

De facto, verificou-se que os resultados podem ser promissores mas, também, que são inconsistentes. Os autores concluíram que a evidência é pouca e limitada para que sejam definidas conclusões claras e orientadoras devidamente fundamentadas pela ciência. O número de estudos existentes é reduzido e existem diferenças substanciais entre eles para que possam ser comparados. Essas diferenças assentam nas metodologias usadas; tempo de intervenção, tamanho da amostra e características da mesma, falta de grupo de controlo, composição da dieta, acesso da alimentação/nutrição, tipo de cancro, estadio, tratamento e técnicas usadas para avaliar os resultados.

Apenas dois estudos publicados entre 1988 e 2016 acerca da dieta cetogénica no tratamento do doente com cancro avaliaram a composição corporal dos participantes, os quais revelaram um aumento da massa magra com este tipo de alimentação. Apesar das limitações metodológicas desses trabalhos, esta conclusão deverá ser explorada, pois uma quantidade de massa magra elevada está associada a uma melhor resposta aos tratamentos, a uma melhor condição física, a uma melhor qualidade de vida e a uma maior sobrevivência.

Dieta cetogénica: quais os efeitos secundários?

A distribuição percentual de macronutrientes da dieta cetogénica pode causar efeitos secundários a curto prazo, como desconforto gastrintestinal (ex: obstipação), letargia e hipoglicemia. Quando ocorrem, é na fase de transição da alimentação. Podem durar entre 1 a 3 semanas, enquanto o organismo se adapta a um teor mais elevado de lípidos e mais baixo de hidratos de carbono na dieta.

Contudo, também podem surgir efeitos a longo prazo, como prejuízo do nível das gorduras no sangue, em populações suscetíveis, litíase renal e danos nos rins. O risco destes efeitos poderá ser minimizado, se o doente apenas ingerir este tipo de dieta durante a fase de tratamento.
Os benefícios (por enquanto, ainda prováveis) e os efeitos secundários devem ser ponderados, de modo a avaliar se a eventual ação terapêutica da dieta cetogénica justifica os possíveis efeitos secundários.

Dieta cetogénica: o que é importante esclarecer?

É fundamental que a investigação considere a interação desta dieta com o mecanismo de ação dos fármacos usados em quimioterapia, de modo a que possa ser avaliada a compatibilidade, antes de ser efetuada a prescrição deste tipo de alimentação.

Quanto ao contributo das proteínas na dieta cetogénica, é importante que seja mais estudado. Primeiro, porque existe uma grande variabilidade na composição corporal (quantidade de massas magra e gorda), em doentes oncológicos, o que se torna um fator influenciador. Segundo, pois importa considerar que as alterações no metabolismo provocadas pela dieta cetogénica podem influenciar as necessidades de proteína de cada indivíduo, pois os aminoácidos (constituintes básicos das proteínas) podem originar glicose no organismo, através do Ciclo de Krebs.

É, ainda, fundamental que seja estudada a influência da dieta em questão no estado nutricional, no prognóstico da doença e na saúde dos doentes em geral. A carência de conclusões devidamente sustentadas acerca dos mecanismos de ação deste tipo de alimentação, os tipos de cancro em que existe efeito, o tempo de intervenção necessário são outras questões que carecem resposta.

Dieta cetogénica: implementação e seguimento

Se a dieta cetogénica trouxer benefícios sustentados pela ciência para o tratamento do doente oncológico, deverá ser devidamente implementada e supervisionada por um nutricionista. Atualmente e devido à inconsistência dos estudos realizados e à ausência de tantas respostas, ainda não existem orientações para a aplicação deste tipo de dieta no cancro.

Antes da implementação desta dieta, deverão ser tidos em conta os resultados de análises ao sangue e à urina relativos a alterações do metabolismo dos ácidos gordos e acidúrias orgânicas, uma vez que a gordura será a principal fonte de energia. Além disso, devem ser avaliadas outras condições como: litíase renal, dislipidemias, doenças hepáticas, atraso do crescimento, refluxo gastroesofágico, défice de ingestão alimentar, obstipação, cardiomiopatia e acidose metabólica crónica. Também deverá ser efetuada uma avaliação do estado nutricional completa.

Devido à complexidade da dieta cetogénica e à potencial baixa palatabilidade da mesma, a adesão do doente depende do seu compromisso, motivação e acompanhamento durante a implementação e no decurso da mesma. A monitorização da adesão do doente é de extrema de importância, pois será determinante para se alcançar e manter um estado de cetose. Como marcadores para avaliar as alterações metabólicas desejadas, deverão ser doseadas a glicemia e os corpos cetónicos na urina e no sangue. Outros parâmetros sanguíneos (níveis séricos de eletrólitos, creatinina e testes de função hepática) poderão, também, ser usados, para determinar os efeitos hepáticos e renais da dieta.

Considerando que a dieta cetogénica inclui quantidades limitadas de fruta, vegetais, cereais e alimentos ricos em cálcio, a ingestão de micronutrientes e de fibra fica abaixo das recomendações. Embora a American Cancer Society recomende, no mínimo, 2,5 chávenas de vegetais e fruta por dia para sobreviventes de cancro, as necessidades poderão ser atingidas, pelo menos a curto prazo, através da suplementação, como recomendado pelo International Ketogenic Diet Study Group.

Em conclusão, atualmente, não existe evidência científica suficiente relativa ao efeito da dieta cetogénica no tratamento do cancro. São necessários mais estudos que respondam às questões que ainda se colocam e que ainda não permitem a implementação, devidamente fundamentada, da dieta cetogénica em doentes oncológicos.

Referências: Oliveira CLP et al. A nutritional perspective of ketogenic diet in cancer: a narrative review. J Acad Nutr Diet. 2018; 118(4): 668-88; Allen BG et al. Ketogenic diets as na adjuvant cancer therapy: History and potential mechanism. Redox Biol. 2014;2C:963-970; Breitkreutz R et al. Effects of a high-fat diet on body composition in cancer patients receiving chemotherapy: A randomized controlled study. Wien Klin Wochenschr. 2005;117(19-20):685-692; Klement RJ & Sweeney RA. Impact of a ketogenic diet intervention during radiotherapy on body composition: I. Initial clinical experience with six prospectively studied patients. BMC Res Notes. 2016; 9:143; Prado CM et al. Sarcopenia and cachexia in the era of obesity: Clinical and nutritional impact. Proc Nutr Soc. 2016;75(2):188-198; Rock CL al. Nutrition and physical activity guidelines for cancer survivors. CA Cancer J Clin. 2012;62(4):243-274; Kossoff EH et al. Optimal clinical management of children receiving the ketogenic diet: Recommendations of the International Ketogenic Diet Study Group. Epilepsia. 2009;50(2):304-317. Fontes de imagens: https://ift.tt/2Eh1vE0 ; https://ift.tt/2T8VWBO

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